Jaleco não é moda. Jaleco é segurança.
Denominado como “espécie de guarda-pó curto que bate à altura dos quadris, usado por médicos, dentistas, etc.”, o jaleco é item de extrema importância em questões de biossegurança, tanto para o profissional quanto para o paciente.
Jaleco e avental são palavras utilizadas para se referir à vestimenta de segurança que oferece proteção ao tronco contra riscos de origem térmica, mecânica, química, biológica e umidade proveniente de operações com uso de água.
De acordo com a mestre em Saúde Pública e especialista em biossegurança, Liliana Junqueira de Paiva Donatelli, em Odontologia são encontrados basicamente quatro tipos do acessório: o avental clínico, o avental cirúrgico, o avental para limpeza de instrumentos e o avental plumbífero para proteção radiológica. “Cada um deles tem sua finalidade, e seu uso é muito importante. Os dois primeiros (clínico e cirúrgico) protegem o profissional do contato com os aerossóis e respingos contaminados por fluidos corporais produzidos durante a atividade odontológica. O avental para limpeza, que deve ser impermeável, protege dos respingos produzidos durante a atividade de limpeza – a lavagem do instrumento realizado durante o processamento de artigos antes da embalagem e na esterilização. Finalmente, os aventais plumbíferos têm por objetivo proteger o paciente do risco físico durante as tomadas radiográficas”, explica a especialista.
A normativa da ANVISA defende que o avental deve ser de mangas longas, tecido claro e confortável, podendo ser de pano ou descartável para os procedimentos que envolvam o atendimento a pacientes e impermeável nos procedimentos de limpeza e desinfecção de artigos, equipamentos ou ambientes. Deve ser usado fechado durante todos os procedimentos.
Dra. Liliana expõe que, embora teoricamente sejam considerados equipamentos de segurança, os aventais não oferecem proteção total contra os aerossóis e respingos, riscos de origem térmica, acidentes de origem mecânica, biológica ou ação de produtos químicos. “Existe a obrigatoriedade do uso por legislação, não somente pelas normas que regulam a atividade odontológica, mas também pela NR32, do Ministério do Trabalho e Emprego. A troca deve ser realizada sempre que os aventais clínicos apresentarem sujidade visível. Infelizmente não há uma recomendação de troca mínima na ausência de sujidade, o resultado é o uso do mesmo avental por vários dias”, lamenta. “Outro fato relevante é que somente alguns estabelecimentos odontológicos proporcionam a lavagem dos aventais dentro da instituição, fornecendo a vestimenta em quantidade compatível com a frequência de troca adequada. Um dos inconvenientes é o transporte e a lavagem dessas roupas, que terminam sendo processadas nas casas dos profissionais, junto com as roupas dos familiares”, completa a profissional, que também é coordenadora do Projeto Biossegurança Cristófoli.
Sabe-se que o objetivo principal dos aventais/jalecos é proteger os profissionais, mas tais acessórios podem se transformar em reservatórios de microrganismos, em especial se houver conduta inadequada da equipe, por exemplo, tocar o avental com as luvas contaminadas, o que pode comprometer a saúde do paciente.
Por esse motivo, segundo a especialista em Biossegurança, o avental deve ser o mais simples possível, sem bolsos nem enfeites e, de preferência, trazer o nome do usuário impresso, para eliminar o uso de crachás de identificação. Os aventais destinados aos procedimentos cirúrgicos devem ser estéreis. Há muitas opções de compra de kits cirúrgicos que já contemplam aventais para toda a equipe, além dos campos cirúrgicos”.
Jaleco: vestimenta ou proteção?
De acordo com a NR6 (MTE), considera-se Equipamento de Proteção Individual (EPI) todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho.
Mas também para ser considerado um Equipamento de Proteção Individual, ainda segundo essa mesma norma NR6, o equipamento de proteção individual, de fabricação nacional ou importado, que só́ poderá́ ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação (CA) expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego.
“Como sabemos, não há aventais à venda que possuam esse certificado. Vestimenta ou EPI, o fundamental é utilizá-lo corretamente, procedendo as trocas quando for indicada. Além disso, a empresa (ou o empregador, independentemente de ser pessoa física ou jurídica) é obrigada a fornecê-los aos empregados, quando o seu uso for necessário, gratuitamente, adequados ao risco estimado, em perfeito estado de conservação e funcionamento; por outro lado, o empregado é responsável pela sua guarda e uso”, explana a mestre em Saúde Pública.
Sobre as inúmeras campanhas que têm sido realizadas sobre o uso consciente do jaleco pelos profissionais de saúde bucal, Dra. Liliana explica que mudança de cultura é uma tarefa e tanto. É preciso trabalhar mais e investir em educação, em especial dos líderes dentro das faculdades, para que eles possam influenciar os alunos durante a sua formação, por exemplo “Infelizmente os erros relacionados à biossegurança vão muito além do uso incorreto de equipamentos de proteção individual, não só o avental, mas a máscara, luvas, etc. Ainda hoje, no Brasil, a maioria dos dentistas não esteriliza as peças de mão entre um paciente e outro, não realiza monitorização da esterilização, não faz manutenção preventiva dos equipamentos, não desinfeta itens enviados ao laboratório de prótese. Temos muito trabalho pela frente”, finaliza.
Fonte: Localodonto.com.br