28/04/2022

Jaleco de mangas longas ou curtas?

Segundo a NR 32, “Todos trabalhadores com possibilidade de exposição a agentes biológicos devem utilizar vestimenta de trabalho adequada e em condições de conforto.”

Embora em determinado momento neste mesmo documento se recomende o uso de “manga comprida e punho justo” especificamente para os trabalhadores expostos a quimioterápicos antineoplásicos, é comum em estabelecimentos de assistência a saúde em todo país o uso de jaleco (ou avental) de mangas longas.

 

Mas qual seria o ideal quando estamos falando de assistência geral? E quando se fala em assistência geral, estamos excluindo os equipamentos de proteção individual de manga longa que estão indicados em determinadas situações, como por exemplo no centro cirúrgico ou na assistência a paciente em precaução por contato.

Existem vários estudos na literatura que demonstram que jalecos de mangas longas são frequentemente contaminados por patógenos ligados a infecções relacionadas a assistência em saúde (IRAS), o que gera a preocupação de que estes sirvam como uma fonte de transmissão cruzada. Por isso, desde 2007, a Inglaterra aboliu o uso de jalecos de mangas longas no cuidado geral aos pacientes, além do uso de adornos, num esforço de controlar a transmissão cruzada destes patógenos.

 

Recentemente foi publicado na Infection Control and Hospital Epidemiology um ensaio clínico randomizado tentando avaliar se o uso de jalecos de manga curta diminuiria esse risco.

Este estudo consistia em duas partes: numa delas 34 profissionais de saúde, usando jalecos de mangas curtas ou longas e luvas de procedimento, eram observados enquanto simulavam exames físicos de pelo menos dois minutos feitos em manequins limpos ou contaminados com material genético viral (DNA), realizando técnica de higienização das mãos com água e sabão e troca de luvas entre os manequins. Após o exame físico de cada manequim era feita a coleta de amostras para detectar se houve contaminação dos pulsos dos profissionais e das mangas dos jalecos utilizados.

 

A outra parte consistia em observar qual a frequência do contato do punho das mangas longas dos profissionais de saúde com o paciente e o ambiente ao se redor. Isso foi feito tanto na fase de simulação do estudo (com os manequins e o ambiente ao seu redor), quanto em observação anônima de grupos de médicos dentro de ambiente hospitalar durante suas rondas matinais. A frequencia desse contato foi superior a 65% no ambiente de simulação e superior a 40% no ambiente hospitalar, dentro das 71 interações observadas que incluíam exame físico do paciente.

Apesar do número amostral do estudo ser pequeno, e de ser baseado principalmente em um ambiente de simulação, o estudo parece comprovar o que muitos de nós controladores de infecção já suspeitávamos: que a conduta de abolir os jalecos de mangas longas no cuidado geral dos pacientes seria a mais correta.


Link para o artigo: https://doi.org/10.1017/ice.2017.264